9. Um álbum que te traz boas memórias
Quando eu era adolescente e estava iniciando a minha formação musical, tive uma fase meio indie-rock-alternativo, o que quer dizer que eu escutava várias músicas parecidas, de bandas que faziam praticamente o mesmo tipo de som, cujos integrantes eram, essencialmente, uns caras magricelas vestindo calças skinny e camisetas coladas. Tipo o Seth Cohen.
I don't know what I'm doing wrong
Maybe I've been here too long
The songs on the radio sounds the same
Everybody looks the same
(In The Morning)
A real é que eu não as diferenciava muito bem e também não ia atrás de me informar melhor sobre o assunto. Ainda assim, o auge dessa minha fase foi a banda inglesa Razorlight. Conheci a banda em meados de 2007 por meio da HBO, que transmitiu alguma reprise de algum festival ou programa - não me lembro, faz dez anos - com várias bandas se apresentando, sendo uma delas o Razorlight. Pouco me lembro da apresentação além do combo skinny branca feat. camiseta branca colada com gola em v usado pelo vocalista, cujos cabelos encaracolados e olhos azuis deixaram uma boa marca na adolescente impressionável de 17 anos que eu era.
Johnny Borrell
Pouco tempo depois, em uma era recém-saída da internet discada e ainda bastante inóspita e pouco desbravada, fui atrás das músicas e, por razão que desconheço, só consegui encontrar o segundo álbum, Razorlight (2006). E foi amor à primeira escutada. Vivemos um relacionamento intenso por meses e hoje, sempre que escuto, sou transportada para aquela época. No caso, os primeiros meses do meu ano de cursinho e o trajeto que eu precisava fazer de ônibus para voltar para casa. Por mais que as letras tratem de relacionamentos frustrados, da sensação de não saber o que raios aconteceu na noite anterior depois de álcool e festas e, de forma geral, de chororô de sad guy, para mim as músicas evocam uma vibe de incertezas em relação ao futuro e aos rumos que a vida vai tomar.
No âmbito ainda mais pessoal, foi uma fase bastante transitória. Não só porque eu estava naquele limbo entre a escola e a faculdade, mas também porque pela primeira vez na minha vida, estava lidando com mudanças de grandes proporções. Depois de estudar dez anos na mesma escola e com praticamente as mesmas pessoas, estava conhecendo gente nova e lidando com o fato de precisar fazer novas amizades, descobrir quem eu era, me tornando maior de idade, conhecendo outra região da cidade, questionando a-vida-o-universo-e-tudo-mais, etc. Um período bem aterrorizante e marcado por algumas angústias, mas também muitas descobertas, anseios, sonhos, liberdades e good vibes. Na época, o meu seriado do coração era One Tree Hill e, curiosamente, o Razorlight participou da trilha sonora alguns anos depois. (Aliás, a trilha sonora da série era excelente, cheia das bandas indie).
Sobre o álbum homônimo, como disse, é o segundo da carreira da banda e, aparentemente, o mais bem sucedido, com hits no topo - ou quase isso - das paradas indie britânicas e blablabla. Ao todo são dez faixas na versão standard, das quais quatro se transformaram em singles. Tem uma versão mais recheada no Spotify, com algumas versões ao vivo. Essa belezinha completou uma década no ano passado, mas é nesse primeiro semestre de 2017 que ela completa dez anos na trilha sonora da minha vida e, por isso, achei apropriado registrar comentários e recordações sobre o assunto por aqui como uma forma de dar continuidade à minha ideia de registrar minha vida por meio de recordações musicais.
DESTAQUES
America
Foi a primeira música da banda que me marcou, tanto porque foi a única que consegui memorizar quando assisti aquela apresentação na HBO, quanto porque é realmente boa. Gosto da atmosfera gostosinha da música, da batida, da guitarra suave no começo e da melodia. A letra tem um quê de anseio e espera.
I Can't Stop This Feeling I've Got
O tipo de música que poderia facilmente entrar para a trilha de The O.C., acho que depois de America, foi a próxima a ganhar meu coração. É suave, com cara de fim de dia preguiçoso na beira da piscina. A letra é meio aleatória e, penso eu, aberta para interpretações. Eu encaro como algumas reflexões sobre se apaixonar? Sei lá.
Back To The Start
Amo essa música! Ela tem uma vibe de verão e praia que me deixa completamente bugada quando penso que a banda é britânica/sueca e, por isso, deveria me fazer pensar em frio, chuva, céu cinza. O ritmo é contagiante, a melodia é fácil de cantarolar e a letra é bem mediana, mas ok, o que importa é a sensação boa que fica enquanto escuto.
Los Angeles Waltz
Mais uma que me ganhou pela atmosfera, com uma batida good vibes e uma melodia gostosa. A letra, novamente, é genérica e cheia de mimimi, mas quem se importa? (Risos). Na minha cópia física (!), é com ela que o álbum termina e gosto muito da sensação de nostalgia que me invade quando chego ao fim da música, com vontade de começar tudo de novo.
Por fim, mas não menos importante, preciso registrar o fato de que o álbum sobreviveu à passagem do tempo de forma louvável. Não vou mentir: quando fui escutar novamente, depois de tanto tempo, para poder escrever o post, fiquei com receio de achar as músicas enfadonhas e não me relacionar mais com elas. Felizmente, o que aconteceu foi o oposto. Apesar de não ser exatamente o tipo de coisa que gosto de escutar atualmente, o álbum continua ótimo e me passa boas sensações, me faz lembrar de uma época boa da minha vida. Com certeza, vou escutar mais vezes nos próximos anos. Só fico chateada porque a banda não lançou mais nada tão bom desde então (rumores de que vão voltar esse ano, após um longo hiato e com uma nova formação; aguardemos) e, por razões que desconheço, o álbum é muito subestimado. Sério, pensa em um álbum que você coloca para escutar e TODAS as músicas são boas? Não são muitos trabalhos que me causam essa impressão e, por isso, escolhi prestigiar mais esse disco.