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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

reputation (Taylor Swift, 2017)

21. O álbum que você mais ouve

Em 10 de novembro de 2017, Taylor Swift nos agraciou com o seu sexto álbum de estúdio, reputation, e desde então, meu coração bate em preto e branco e meus sentimentos se escrevem em fonte de jornal. Pelo que pude observar, lançamentos musicais do mundo pop costumam ser ansiosamente aguardados e com reputation não foi diferente; principalmente, se considerarmos todo o contexto da narrativa swiftiana naquele período. Após meses isolada da imprensa, descansando sua imagem, abandonando as redes sociais e se recuperando do Famousgate - o maior escândalo pop de 2016 -, nossa melhor amiga famosa ressurgiu das cinzas e entregou o único álbum que poderia ter feito em tais condições. Acho que podemos concordar que reputation não é o melhor álbum de sua carreira, mas é o álbum que ela precisava fazer. E o fez de forma louvável, com músicas gostosas, contagiantes e que continuam a nos mostrar o seu talento como letrista. Em seu review do álbum, Bruno Di Maio, classificou reputation como um "primo dark do 1989" e eu gosto dessa definição. Sonoramente falando, o álbum continua a beber das fontes do pop e do synthpop e acho que o maior diferencial é o electropop, que o faz soar mais atual em relação ao seu antecessor. 

Mas, mais que isso, gosto de pensar que em 1989, Taylor olha para o mundo como alguém cheia de sonhos, que ainda carrega alguma ingenuidade da juventude e desconhece o impossível. Ela parece não se levar tão a sério e quer apenas se divertir. Tudo é marcado por cores em tons pastel e neon. Festas e amizades. Um álbum amado pelos fãs, aclamado pela crítica e premiado por quem premia discos. No auge de seus 26 anos, Taylor Swift, que já havia sido a pessoa mais jovem a ganhar um Grammy de álbum do ano, se tornou também a primeira mulher a levar o troféu para casa duas vezes. Ela estava no topo e fez questão de ressaltar para todos que a diminuíram, desacreditaram e tentaram levar o crédito por seu trabalho que chegou ali por mérito próprio e com muito esforço. Parecia o ponto final na história de perseguição que protagonizou por tantos anos; mas como sabemos, foi apenas o desfecho de um capítulo e o pior ainda estava por vir.

Não vou entrar nos pormenores do Famousgate, a internet está aí para quem quiser relembrar, mas basta saber que o ocorrido alterou o curso da carreira da Taylor. Pouco antes do escândalo, ela começou com suas sutis alterações de visual - que, como logo percebi, costumam indicar para onde o novo som está caminhando - e os fãs estavam em polvorosa especulando o que viria. Meu palpite era que Taylor nos daria um disco de pop rock meio anos 90. Inclusive, ainda sonho com isso. De qualquer forma, nossos planos foram frustrados e nossa amiga foi reintroduzida na narrativa da qual nunca quis fazer parte, o que resultou em seu completo desaparecimento durante meses. Até que ela resolveu retornar com o álbum mais desconexo de sua carreira.

Particularmente, tenho um carinho especial pelo reputation, já que foi o primeiro disco que acompanhei desde o lançamento do primeiro single. A Taylor dessa fase também é a minha preferida. É uma Taylor que despencou do topo, que viu seu mundo desabar e resolveu continuar. Gosto da postura que ela adotou, se mostrando uma pessoa que aprendeu com seus erros, mas que também não se arrepende de tê-los cometido. E também não se sente mal por pensar assim e muito menos irá pedir desculpas por isso. Basicamente, a Taylor Swift de reputation viu o fundo do poço e, por não ter mais nada a perder, ligou o f*da-se para o que vão pensar dela - uma vez que percebeu que não pode controlar o que as pessoas fazem de sua imagem -, matou a old Taylor e se permitiu dizer adeus aos filtros de "boa moça". Como resultado, encontramos uma pessoa amadurecida e, ainda que magoada, fortalecida e bastante humana. De forma geral, acho que o grande trunfo do reputation é capturar este período de transição pelo qual ela está passando, no qual reconhece que está na hora de entregar as chaves do reino pop para outra pessoa, e nos preparar para o que está por vir. 

Ao todo, reputation traz quinze faixas que, em sua maioria, irão tratar de temas já recorrentes na obra de Taylor Swift, como sentimentos e relacionamentos. A novidade se encontra na maneira como ela aborda esses temas, apresentando uma perspectiva do presente, na qual os sentimentos e situações retratados são aqueles que ela estava vivendo no momento em que estava compondo. Assim, é quase seguro dizer que não há música dedicada a algum ex-lover (ainda que algumas possíveis referências possam existir), o que, por sua vez, não é o foco do álbum. Há também algumas doses ocasionais de indiretas para a mídia e àqueles que lhe atacaram nos últimos tempos, o que poderia ser encarado como imaturidade, mas, por outro lado, não é como se ela pudesse fazer um álbum inteiro e "se esquecer" de responder as críticas que recebeu, né? Quanto à maneira como as faixas foram organizadas, há uma teoria entre os fãs de que a primeira metade nos mostraria a nova Taylor, uma versão da cantora que não é necessariamente a verdadeira, mas é a que ela adotou nessa nova fase. A segunda metade nos apresentaria a old Taylor, aquela que amamos, queremos de volta e sabemos que não morreu, está apenas adormecida. Não faço a menor ideia se isso é real e já que nessa fase a Taylor não está dando entrevistas, acho que nunca saberemos. Sinceramente, não sei o que pensar. 

No mais, ressalto novamente que tenho muito carinho por reputation, que se tornou o álbum mais executado no meu Spotify no último ano e já ocupa a sexta posição no top 10 of all time do meu Last.Fm. Se isso não for poder, eu não sei mais o que é. Assim, sem mais delongas, é hora de um breve faixa-a-faixa. Are you ready for it?

TRACK BY TRACK 

..Ready For It?
Nem vou mentir: nas primeiras vezes que escutei, achei essa música estranha e com uma estrutura pouco convencional e bem esquisita. Porém, não demorou muito para me apaixonar completamente pelo refrão e hoje, já acho que é muito icônica. Definitivamente, a melhor faixa de abertura de um álbum da Taylor.
Trecho digno de nota: And he can be my jailer, Burton to this Taylor / Every lover known in comparison is a failure / I forget their names now, I'm so very tamed now / Never be the same now

End Game
Feat. com Ed Sheeran e Future que achei bem qualquer coisa quando o álbum saiu e hoje sigo meio indiferente. De forma geral, achei bem genérica e duvido que alguém ainda ache inovador colaborações de artistas pop com artistas de outros gêneros, mas segue o baile. Quando penso nessa música, penso que 1) Tay Tay é bem versátil e 2) a teoria dos fãs sobre old e new Taylor faz sentido. No mais, não pulo a faixa, mas fico contando os minutos para a próxima.
Trecho digno de nota: I don't wanna hurt you, I just wanna be / Drinkin' on a beach with you all over me / I know what they all say / But I ain't tryna play

I Did Something Bad
Provavelmente, a melhor música do álbum todo (são questões). O que mais gosto aqui é a sinceridade de quem não poderia se importar menos com o que dizem sobre suas atitudes e muito menos se acham que o que fez não foi algo legal. Afinal, se é algo ruim, então porque ela se sente tão bem? Muito triste que a era reputation está chegando ao fim e essa belezinha não foi single.
Trecho digno de nota: If a man talks shit, then I owe him nothing / I don't regret it one bit, cause he had it coming
Trecho digno de nota 2: They're burning all the witches, even if you aren't one / So light me up

Don't Blame Me
Minha primeira favorita do álbum, tanto pela sonoridade bem diferente e com ares de Lana Del Rey e Hozier (?), quanto pela forma como ela fala sobre como ama. Taylor Swift está completamente apaixonada e não acha justo que a culpem por seus sentimentos e por não querer escondê-los. Afinal, não é isso que a gente faz quando amamos muito? Muito triste que a era reputation está chegando ao fim e essa belezinha não foi single [2].
Trecho digno de nota: And, baby, for you I would fall from grace / Just to touch your face / If you walk away / I'd beg you on my knees to stay / Don't blame me, love made me crazy /If it doesn't, you ain't doing it right / Lord, save me, my drug is my baby / I'd be using for the rest of my life

Delicate
Essa foi ganhando o meu coração aos poucos, de um jeitinho todo especial e ~delicado~. O que mais gosto aqui é a vulnerabilidade da Taylor. É uma música que mostra o isolamento e a solidão que acompanham a fama e, no caso da Taylor, como deve ser difícil manter qualquer tipo de relacionamento quando se faz tanto sucesso a ponto de a sua reputação te preceder. A batida é uma delicinha e é o tipo de música que dá pra escutar em loop sem cansar.
Trecho digno de nota: My reputation's never been worse, so / You must like me for me

Look What You Made Me Do
Eu simplesmente ODIEI essa música quando escutei pela primeira vez e só fui considerar a possibilidade de que ela não fosse um completo show de horrores depois de assistir ao clipe - que, por sinal, é um baita clipe -, que me fez considerar a possibilidade de que tudo não passava de uma zoeira, um pastiche. Hoje, não sei muito bem se gosto dela ou se apenas me acostumei depois de tantas execuções no Spotify. De qualquer forma, o que temos aqui é Taylor Swift entregando ao povo o que povo quer: polêmica, indireta e referências que possibilitem interpretações e criações de teorias. Tudo isso sem perder a chance de se colocar em uma posição de vítima - um ato absurdamente calculado, diga-se de passagem. No fim, acho que dá pra dizer que essa música é do tipo ruim-boa: de tão péssima, fica excelente.
Trecho digno de nota: "I'm sorry, the old Taylor can't come to the phone right now" / "Why?" / "Oh, 'cause she's dead!" ICÔNICO

So It Goes...
Essa é uma daquelas que achei pouco memoráveis até me dar conta de que já sabia cantar a letra do começo ao fim. Ainda assim, sempre demoro para perceber quando é ela que está tocando. Na letra, Taylor fala sobre um encontro de duas pessoas em um bar e os flertes que levam a uma noite de sexo casual, acho. Ela não fala isso diretamente, mas faz referências a estar sozinha com a pessoa no escuro, batom espalhado no rosto do boy e arranhões nas costas dele. You go, girl! Good for you!
Trecho digno de nota: You know I'm not a bad girl, but I do bad things with you

Gorgeous
Amei desde a primeira vez que escutei, pois é o tipo de música que me faz ter a certeza de que a old Taylor não morreu e apenas tirou umas férias. Aqui, nossa melhor amiga famosa vai falar de como é difícil lidar com a situação de encontrar a famigerada crush e perder completamente controle e o foco, se tornando incapaz de agir de forma normal. É tudo bem besta, mas quem nunca?
Trecho digno de nota: You've ruined my life, by not being mine / You're so gorgeous / I can't say anything to your face / 'Cause look at your face

Getaway Car
Essa aqui também foi uma das minhas primeiras preferidas do álbum. Gosto de como aqui tudo é bem visual. Assim, toda vez que escuto, assisto a um filme na minha cabeça, no qual Taylor fala de um relacionamento que, desde o início, ela já sabia que não ia dar certo. Não fica muito claro o porquê, mas fica claro que o relacionamento não era algo considerado certo. Teorias especulam que o ex-lover da música seria o Tom Hiddleston, com quem nossa amiga teria escapado de uma festa quando ainda namorava Calvin Harris. Muito triste que a era reputation está chegando ao fim e essa belezinha não foi single [3].
Trecho digno de nota: We were jet-set, Bonnie and Clyde / Until I switched to the other side / It's no surprise I turned you in / 'Cause us traitors never win

King of My Heart
Há poucas semanas, eu diria que essa era a música mais desnecessária do álbum, uma vez que absolutamente nada nela havia chamado a minha atenção. Porém, um belo dia, ela me ganhou. Acho que é um daqueles casos em que a gente tem que esperar o momento certo. De qualquer forma, se ainda não havia ficado claro até aqui, Taylor mostra mais uma vez que está apaixonadíssima pelo boy, que chegou aos poucos e, de repente, se transformou no dono do seu coração. É tudo bem fofo.
Trecho digno de nota: Is this the end of all the endings? / My broken bones are mending / With all these nights we're spending / Up in the roof with a school girl crush / Drinking beer out of plastic cups / Say you fancy me, not fancy stuff / Baby, all at once, this is enough

Dancing With Our Hands Tight 
Tá, essa aqui eu meio que ignoro e não tenho muita opinião a respeito. É boa, combina com a sonoridade e as temáticas do álbum. De forma geral, sinto que aqui ela está falando, mais uma vez, sobre como é difícil se relacionar quando os holofotes estão sempre apontados para você. Sei lá, acho que é isso.
Trecho digno de nota: I'm a mess, but I'm a mess that you wanted

Dress
Mais uma bem visual, mas com letra misteriosa. Taylor fala sobre estar apaixonada por alguém que não quer que seja apenas um amigo. Ela discorre também sobre encontrar essa pessoa em eventos e multidões sem nunca levantar suspeitas. Acho que ela está falando do Joe Alwyn.
Trecho de letra: And if I get burned, at least we were electrified / I'm spilling wine in the bathub, you kiss my face and we're both drunk / Everyone thinks that they know us, but they don't know nothing about

This Is Why We Can't Have Nice Things
Aqui, mais uma vez, Taylor Swift dá ao povo o que o povo quer; no caso,  uma música com indiretas para Kanye West. Tudo nessa letra mostra o lado ~vingativo~ de nossa amiga, que obviamente não perderia a oportunidade de transformar os limões de sua vida em limonada. Gostaria de apontar para a possibilidade de ela também estar dedicando a música à mídia. Muito triste que a era reputation está chegando ao fim e essa belezinha não foi single [4].
Trecho digno de nota: It was so nice being friends again / There I was giving you a second chance / But you stabbed my back while shaking my hand / And therein lies the issue / Friends don't try to trick you / Get you on the phone and mind-twist you

Call It What You Want
Essa aqui foi uma das últimas a serem divulgadas antes do lançamento do álbum e foi com ela que eu me tranquilizei, sabendo que o reputation seria muito bom. A música é mais tranquila e acho que funciona bem, já caminhando para o desfecho do disco. A letra é também uma das mais sinceras e vulneráveis, na qual Taylor discorre sobre estar vivendo um momento muito ruim em sua vida, mas  coloca os fatos em perspectiva e sinaliza que tudo isso pouco importa porque no fim do dia, Joe Alwyn (acho que podemos considerar que todas as letras loucamente apaixonadas do álbum são para ele, certo?) a ama por quem ela é, com todas as suas qualidades - positivas e negativas - e isso a deixa feliz. É bem fofa, uma das minhas preferidas.
Trecho digno de nota: Bridges burn, I never learn / At least I did one thing right / I did one thing right / I'm laughing with my lover, making forts under covers / Trust him like a brother, you know I did one thing right / Starry eyes sparklin' up my darkest night

New Year's Day
Uma baladinha simples de piano, mas carregada de significados. Taylor encerra o disco encerrando também um capítulo de sua vida e indicando o início de algo novo. Ao mesmo tempo, ela fala sobre a importância de se apegar às memórias em momentos de dificuldades, o que soa um pouco como um pedido aos fãs - meio como se dissesse, "hey, eu sei que estou distante e sei que nem tudo no disco soa como eu, mas eu preciso desse espaço e desse tempo para mim. Vocês podem me esperar?". Por fim, ela fala também sobre estar com alguém que não só participa da sua festa de ano novo, quando tudo está lindo, mas também te ajuda a limpar toda a bagunça no dia seguinte. Novamente, é muito fofo. Se for rolar um clipe de turnê para encerrar a era reputation - e tem que rolar! - a música tem que ser essa, Tay Tay!
Trecho digno de nota: Please don't ever become a stranger whose laugh I could recongnize anywhere